Nesta intromissão persistente de evocar fatos passados, o presente por momentos torna-se submisso às recordações de outrora, que de uma forma funcional nos conduz a experiências vividas e partilhadas com todos aqueles que as puderam testemunhar. Chegou-me recentemente a informação da visível degradação das instalações desportivas do Clube Ferroviário de Moçambique (havia mais de 23 delegações na então província) que na capital se situavam no cruzamento da Av. da República (hoje 25 de Setembro) com a Av. Luciano Cordeiro (hoje Alberto Luthuli) onde funcionava a sede social da coletividade. Sem dúvida que se tratava do maior clube eclético de Moçambique. Na retaguarda podia-se observar a sua piscina e um excelente ringue ao ar livre referenciado para a prática do hóquei em patins e basquetebol. Recordo com alguma emoção aquelas tardes cálidas de muitos sábados à tarde, onde se disputava o Campeonato distrital de Juvenis e Juniores da bola ao cesto, porque lá joguei algumas vezes em representação do Grupo Desportivo de Lourenço Marques. Também ali treinaram e atuaram algumas vezes, os seniores do CFVM que se tornaram os primeiros campeões de Moçambique em Basquetebol após o 25 de Abril e que no final da temporada, a sua grande maioria viajou para Portugal. Uns metros mais acima e na mesma artéria, na Av. Luciano Cordeiro (Alberto Luthuli) mesmo defronte dos restaurantes Peninsular e Coimbra (onde se preparavam dos melhores frangos à cafreal) foi construído o Campo de Futebol, denominado Estádio Eng. Freitas e Costa verdadeiro orgulho dos ferroviários ( como eram conhecidos os funcionários dos Caminhos de Ferro) que contribuíram de forma decisiva para a sua implantação. Inaugurado nos princípios da década 40, foi considerado como um dos mais belos campos de futebol do então chamado espaço português. Dotado de uma bela bancada central toda construída em pedra, emoldurada por uma pala com ligeira curvatura em cimento armado, apetrechada de camarotes e equipado com iluminação artificial. Sob o seu largo escadario havia treinos de ginástica desportiva e halterofilismo. A este rol de lembranças neste espaço e encontrando-me no seu interior como colaborador do jornal Diário-secção desportiva, consegui para a reportagem a presença do mítico treinador Jimmy Hagan que se encontrava nas bancadas a observar um jogo de juniores, numa partida arduamente disputada por muitos jovens oriundos dos bairros de caniço e que depois ingressavam nas equipas federadas. Segundo se constava, o mestre britânico estaria ali em missão de “espionagem” com dois nomes em agenda. Depois foi só chamar o fotógrafo de serviço para a foto da praxe. Decorria o ano de 1972, e o SL e Benfica encontrava-se em LM, para a disputa do Troféu TAP. Certamente que o campo do Ferroviário, foi palco de grandes sonhos para a generalidade de muitos jovens talentosos que procuravam rumar à Metrópole à procura da fama e glória. Era pois verdade que se dizia em Moçambique, sempre que nascia um jovem se estava perante um potencial desportista.
Manuel Terra
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