sábado, 27 de agosto de 2011

Jardim D. Berta




Neste devoto costume apaixonante de evocar um sem número de recordações, talvez inspirado pelo o esplendor do verão; sim é esse brilho da natureza que ilumina os percursos pedestres, quantas vezes sob um sol abrasador que em tempos idos, eu e um grupo alargado nos metíamos ao caminho num trajeto  projetado entre o Bairro da Munhuana  e a Escola Industrial Mouzinho de Albuquerque(hoje Escola 1º de Maio), com especial ênfase no período da tarde. Com mais de três quilómetros para andar, tínhamos que acelerar o passo não só para não chegarmos atrasados às aulas, como também para uma pequena pausa no Jardim D. Berta(hoje Jardim Nangade) já muito próximo do estabelecimento escolar e que ficava localizado na Av. Augusto Castilho(hoje Vladimir Lénin) e que confrontava com a Av. Latino Coelho( hoje Maguiguana), frente ao Super-mercado o Barateiro. Era um espaço verde ilustrado por pequenos arruamentos de alcatrão, onde estavam fixos bancos alinhados a pequenas distâncias. No centro eu ainda recordo a sua pequena mas bela taça de onde jorrava do alto da sua pia ,um jato de água que na sua curva descendente banhava o anel de recolha numa sinfonia de agradável toada , que convidava ao relaxe os mais afanados. Ao fundo figurava o parque infantil , onde os petizes davam largas à imaginação sob o olhar atento de muitas avós bonançosas. Em lugar de destaque perfilava-se sobre um pequeno mural , o busto trabalhado em mármore branco da ilustre senhora que dava o nome àquela zona verde, arborizada com espécies  nativas e com canteiros exalando o perfume e a beleza das suas plantas. Contudo a corrente do pensamento centraliza-se por momentos no chafariz em ferro fundido, que  nos obrigava religiosamente a uma paragem obrigatória para saciarmos a sede provocada pelo ardente e sufocante calor que se fazia sentir. Enfim, era quase um oásis no meio de um deserto. Refeitos do cansaço da jornada fazíamos quase em passo corrida, a pequena distância até à escola. Já a noite caíra e o sol deixava de alumiar, quando retornávamos a caminhada até ao nosso bairro, sem que antes  nova paragem viesse a acontecer numa espécie de despedida até ao dia seguinte, agora com o jardim quase vazio coberto por estrelas cintilantes, que contemplavam alguns casais de namorados que prefiguravam promessas de amor desmedido. São estas imagens tão peculiares que me tocam, prerrogativas da nostalgia que expressa da forma mais pura, quanto representaram para a minha geração as passagens gratas por aquele familiar jardim.


Manuel Terra