Na persecução mordaz da nostalgia dos bons velhos tempos, assalta-me a memória um spot publicitário do Rádio Clube de Moçambique que propalava: O Ponto Final é, onde acaba a Central (outra zona da cidade) e começa o Alto-Maé. Sem qualquer alusão gramatical, tratava-se de uma afamada marisqueira localizada no cruzamento da Av. Pinheiro Chagas (Eduardo Mondlane) com a Av. General Machado (Guerra Popular) onde os crustáceos eram cozinhados com mestria e regados com cerveja de palato requintado ou do melhor vinho verde importado. Junto à sua entrada, o olhar espraiava-se pela longa artéria de três faixas de rodagem até ao buliçoso bairro do Alto-Maé, zona de transição das áreas suburbanas para a urbe de cimento. Era um verdadeiro marco no dia a dia de LM, dormitório de gente simples, trabalhadora e de sorriso nos lábios. Por algum tempo, os meus pais lá residiram, junto à Casa Bem-Fica, mesmo defronte de um dos mais antigos estabelecimentos de modas, a Casa Fabião (hoje uma dependência bancária). Naquela linha onde fervilhava o comércio, em que tudo se vendia a preços mais acessíveis, crescia a azáfama de um formigueiro humano aparentemente sem destino, mas que rapidamente se descortinava nos mais diversos estabelecimentos e repartições. Gente multicor, que se cruzava ao virar de cada esquina e se movia ao ritmo que aquela terra reclamava. A maioria dos prédios mais altos, apresentavam nas alas laterais, a mais variada publicidade projetada, de inteiro agrado dos seus moradores. Nos seus baixos comerciais, quem já não se lembra da Saratoga, Papelaria Folques, Foto Coimbra desse grande profissional Armindo Afonso, do Cinema Infante (Charlot), passando pelo Restaurante 2024 (ricas bifanas), Pastelaria Paris, as instalações do B.N.U e da escola primária do bairro. Afinal nada se perdeu, apenas tudo se transformou. O Restaurante Imperial que eu frequentei em comemorações festivas de amigos, era conhecido pelo seu arroz branco acompanhado de longos lagostins, grelhados no melhor carvão do interior e pincelados de um molho especial. Como é agradável citar o Restaurante o Leão d`Ouro que se orgulhava de ser o melhor em todos os pratos onde entrasse o fiel amigo. Na sua esplanada encontravam-se instaladas colunas de som, que nos proporcionavam ouvir aos domingos os relatos de futebol, difundidos pela Emissora Nacional, com os golos do Eusébio a serem festejados efusivamente. No término do bairro, ficava o edifício dos correios e no virar para o Largo Albasini o carismático Bazar Rajá, comércio hindu onde vendedores de cofiós na cabeça e mulheres trajando vestes de sari, excediam-se na simpatia acrescentando à venda dos produtos, um “saguate”(pequena lembrança) na sua tradicional sagacidade e arte de bem vender. Era assim o Alto-Maé de outrora, que encantou gerações do meu tempo e que certamente residirá no imaginário de todos aqueles, que nunca puderam voltar.
Manuel Terra
Procuro AZAR MAHUMANI, residente no Alto Maé, que esteve cerca de 3 anos em Lisboa, no Regimento de Transmissões, tratando de obter uma pensão por ferimentos em combate, aquando da guerra colonial. Regressou a Moçambique em Fevereiro de 2015 e não mais contactou. Presumo que terá perdido meu endereço, ou por qualquer outro motivo. Agradeço qualquer informação sua.
ResponderEliminarJacinto Gonçalves
Alguém tem alguma foto do falecido médico Palma Calado, antigo residente do Alto Maé?
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