Naquela manhã do dia 8 de Agosto do ano de 2009, mal reparava no que acontecia à minha volta. Toda a minha atenção se concentrava no meu relógio de pulso. Tentava, em vão, empurrar com os olhos da alma, os ponteiros dessa máquina do tempo. Ansiosamente, aguardava na sala de embarque do Aeroporto de Lisboa, a chamada dos passageiros para o voo que me levaria, 35 anos depois, à capital das minhas memórias. Já tinha acertado a hora, pelo fuso horário de Moçambique.Com este acto, impulsivo, sentia-me já com um pé na cidade de Maputo.
Há esperas que parecem durar uma eternidade. Dez horas e trinta minutos separavam-me do alvo do meu desejo.
Uma vez no ar, envolvi-me muita vezes com as minhas emoções. Cheguei a duvidar que conseguisse sentir-me turista naquelas férias. Pensei que este regresso ao passado iria ignorar a razão para que tudo ficasse por conta do coração. À medida que me aproximava dessa pérola do Índico, as batidas cardíacas aceleravam a um ritmo preocupante. Vi-me obrigado a fazer algumas “fugas” à emoção para reencontrar o melhor equilíbrio possível.
Já em voo descendente, abandonei o coração à sua sorte. No avião, alguns “colegas” de voo, denotavam a mesma ansiedade. Cruzávamos o olhar e partilhávamos a emoção sem qualquer suspiro. O momento era de silêncio. Os rostos contraiam-se, os olhos cerravam-se amiudadamente.
O cinto de segurança, teimosamente, recusava-se a fazer o encaixe, entregue que estava ao tremular das mãos. O assento parecia demasiado pequeno para tanta agitação.
Naquele momento em que o avião tocou o solo do aeroporto de Maputo, restabeleceu-se o cordão umbilical que me tinha ligado àquela terra, há tantos anos.
Enquanto descia as escadas do avião, os pulmões deliciavam-se com aquele ar Africano.
A espera pela entrega das malas, foi mais demorada que o habitual, mas uma avaria no tapete por onde estas são entregues, assim o determinou. Não me perturbou essa demora, pois estava ainda a tragar, deliciado, o cheiro, as cores, as formas… daquele pequeno espaço de recepção ao viajante. Em qualquer outro lugar do mundo, apontaria a dedo as carências que esse espaço revelava, mas ali, os meus olhos só “viam” o que a alma queria. Não me sentia um viajante qualquer. Era, de novo, um “Retornado”, ainda que essa condição tivesse os dias contados.
Na posse das malas, dei a partida para o assalto às memórias.
Aurélio Terra
Amigo, não o conheço, mas ao ler este seu regresso, até parecia que se estava a passar comigo, esse, seu regresso àquela maravilhosa Terra.
ResponderEliminarTenho esperança, que, não vou morrer sem isso acontecer na realidade.
Por esta viagem de memórias fica um fraterno abraço de gratidão
ResponderEliminar