A cada dia que passa, mais distante pareço ficar das minhas vivências que me fogem como um amor perdido. Resisto e remexo o passado e nas poeira das memórias vislumbro recordações da antiga Lourenço Marques. Tento rever o cruzamento da Av. da República (25 de Setembro) com a Av. D. Luis(Samora Machel) que servia de modo ímpar o núcleo comercial da baixa citadina, famosa pela referência das inúmeras lojas, escritórios, restauração e vendedores de artesanato. Naquela cidade, tudo crescia a um ritmo alucinante. Depois da saída do trabalho, todos os caminhos pareciam convergir para as artérias da baixa. Era considerada a hora de ponta e o semáforo ignorado, pela presença do polícia sinaleiro que do alto da sua peanha num ritual de apitadelas e braçadas, dava a sensação de arbitrar os destinos de peões e automobilistas , que por ali passavam. Os largos passeios estavam superpovoados de transeuntes que pouca importância davam ao tempo. O Café Scala (hoje descaraterizado), Continental(atualmente encerrado) e o Djambú eram preciosos testemunhos de uma época áurea, com as suas esplanadas sempre a abarrotar de clientes habituais, que em momentos de relaxe entre um café e uma cerveja, soltavam sílabas esfumadas entre dois ou três cigarros queimados. Era nessa área comercial que se situava os Armazéns John Orr’s afamados pela importância sedutora e sensual, das modas europeias. Muito próximo a Casa Coimbra era também um marco na venda de vestuário. Defronte do Mercado Municipal, localizava-se a Casa Elefante que vendia as mais lindas capulanas de cores vivas e garridas. Da arcada do Prédio Nauticus, soava a musica yé yé de discos vinil, difundida pela Discoteca(nada de confusões) Poliarte que vendia também livros e obras de arte. Lembram-me também as matinés de fins de semana, no Teatro Scala e no Cinema Avenida, com preços especiais para estudantes. No final da baixa, em terrenos térreos instalava-se o Luna Parque que fazia a felicidade dos petizes e a distração dos adultos no mundo das diversões. Quando o sol se despedia dos laurentinos, disparavam os deslumbrantes néons publicitários instalados em tudo que era sítio, tornando a noite mais mágica e atraente. São estas imagens da outra face do tempo, que permanecerão infinitamente no subconsciente da imensa gente que viveu e continua a amar aquela terra.
Manuel Terra
Manuel Terra
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