Debruçado sobre a janela das memórias, tento avistar no horizonte das minhas recordações, aquela simpática vila, a que muitos talvez movidos por analogia chamaram a Sintra de Moçambique. Localizada numa região montanhosa, no interior sudoeste a 80 Km da capital moçambicana, faz fronteira com o reino da Suazilândia. Recuo ao tempo em que muitos laurentinos se encaminhavam aos fins-de-semana para a Namaacha, para usufruírem do repouso de uma semana de trabalho, naquele espaço aprazível, recheado de exotismo e extraordinária beleza. Jamais esquecerei, que também foi por lá que passei alguns dos melhores dias da minha vida e, porque lhe devia essa gratidão, visitei-a nos últimos fins-de-semana, antes do meu regresso a Portugal em Agosto de 76, em jeito de despedida. Pernoitei no antigo Hotel dos Libombos, que ficava mesmo ao lado da nova unidade de turismo, cujo proprietário era o mesmo (o Rocha, de Mirandela se não estou errado). Já lá vão mais de três décadas, período insuficiente para me desligar daquelas caminhadas matinais, que eu e um grupo de amigos tínhamos agendadas. As manhãs de Agosto eram gélidas, mas as passadas em ritmo acelerado ajudavam a aquecer. No percurso encantavam-nos aquelas casas de campo, erguidas em pedra, abundante na região, de requinte gosto com os seus pequenos quintais fronteiriços, onde as árvores de fruto tinham um lugar muito especial. O final da jornada, terminava como de costume nas suas deslumbrantes cascatas, que suportavam entre si uma velha ponte de madeira. No regresso ao hotel, ainda antes do almoço, havia tempo para uns breves mergulhos na sua longa e bem tratada piscina. Depois do repasto, as tardes ensolaradas convidavam-nos a mais um passeio, desta feita à mata de pinheiros, cercada de arame farpado, onde famílias inteiras se deslocavam para os famosos piqueniques. Por lá passavam milhares de peregrinos nas noites de 12 para 13 de Maio, em direção ao santuário mariano da Nossa Senhora da Namaacha. O dia domingueiro era reservado para o passeio geral à vila. Lembro-me das instalações escolares do Instituto Mouzinho de Albuquerque, dirigido pela Ordem Salesiana, que marcou posição de relevo no hóquei em patins e a grande “cantera” da equipa de D. Bosco. O colégio João de Deus( em ruínas) e o Barroso(hoje para o curso de professores) eram destinados á formação feminina. Todos os estabelecimentos da quela simpática vila, tinham uma excelente qualidade de ensino que marcou gerações para uma vida de sonho. Para o ligeiro descanso escolhíamos, o clube recreativo local. Ao longe, já se descortinavam as suas referências fabris, de uma linha de engarrafamento de água e das instalações da Canadadry, que tinham como cenário o realce cristalino, das quedas de água. Antes da noite cair, junto ao posto raiano comprávamos artigos de vestuário em lã, confecionados pelas mãos hábeis e artísticas das negras suázis. Tudo porque o inverno europeu, esperava por nós em terras lusas. A alegria só seria quebrada, pelo amargurar de um regresso indesejado, marcado pela nostalgia de um tempo perdido, varrido pelos ventos da história.
Manuel Terra
Que lembranças o Sr. me evoca. Tantos anos se passaram, releio seus artigos e leio coisas que havia relegado em minha memória, algumas, confesso até se esvairam. Mas é muito bom acordar as memórias adormecidas. Muito obrigada sr. Manuel Terra. Como seria enriquecedor se seus textos fossem pontuados com algumas fotos mas também sei que isso nem sempre é possível. De qualquer modo seus textos já são enriquecedores
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