segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Terra molhada.



Dezassete de Agosto de 2009, à noite, algures numa ilha do Índico, tentava a reconciliação com o sono, sem sucesso. Uma pontinha de ansiedade facilitava a vida à insónia. Ainda me lembrei das noites de 24 de Dezembro, quando as crianças recebiam as prendas de Natal a 25. Bom, mas desta vez, não havia sapatinho debaixo de um pinheiro à espera de volumes de fantasia. A verdade é que para o dia seguinte, estava previsto trocar os sapatos por umas barbatanas e praticar snorkeling (uma espécie de mergulho superficial, muito indicado para principiantes, de todas as idades), na ponta de Santa Maria, da ilha de Inhaca, onde os corais abundam. Já me imaginava como uma espécie de pato Donald no meio de um aquário.
Na manhã de dezoito, estava eu junto ao jipe que nos levaria até à outra ponta da ilha, a ultimar os preparativos para a saída, que é como quem diz, a testar as barbatanas, óculos e snorkel, quando do céu veio uma balde de água fria. A chuva parecia estar a instalar-se de armas e bagagem naquelas paragens, para desânimo dos excursionistas. A saída ficou suspensa. Confesso que não tive tempo para pessimismos, pois aquele cheiro a terra molhada, acicatou o meu refúgio das lembranças. Aquele quadro que me fez recuar muitos anos, lembrou-me tórridos dias de verão, naquelas terras, onde o calor sufocante aconselhava o refúgio numa sombra. Mas, por vezes, quando o passo era já cada vez mais curto, desabava do ventre de algumas nuvens compreensivas, a impetuosa água que parecia caída do céu como dádiva. Naquela ocasião, ninguém retirava em debandada, e muito menos abria o guarda-chuva, pois cada gota caída era uma espécie de carícia para o corpo. Sabíamos bem que dali a pouco o sol se sobreporia às nuvens, e a roupa encharcada em breve secaria.
E deambulava eu pelas memórias, quando o astro rei subiu ao seu trono de novo, para gáudio dos meus companheiros de mergulho, que assim puderam ver as suas expectativas coroadas de êxito.
Ah, mas se aquelas águas, a viver o seu inverno, fossem mais piedosas, não teria eu, ficado com elas, só pelos joelhos.
Mas os corais estavam lá, os peixes multiformes e policromáticos, também, e até duas tartarugas de bom porte nos deram as boas vindas.
Abençoada terra!

Aurélio Terra

1 comentário:

  1. Imagino o desepero da Ló, cheia de pica para entrar na àgua e explorar o oceano mágico!

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