Só mesmo a perspectiva de reencontrar a savana africana me faria levantar às 5 horas da madrugada para rumar de Maputo até ao Kruger Park. Mas também, o dia em Moçambique começa muito cedo, anunciado pelo canto do galo, pois há que aproveitar as horas de sol, que a noite depressa se faz anunciar.
Duas horas em princípio são o bastante para ligar Maputo ao Kruger Park, embora as formalidades de fronteira possam estender a duração do percurso.
Chegado ao alojamento no Kruger, desembaracei-me das malas e sentei-me a contemplar o quadro que a natureza me servia e que Monet não desdenharia pintar.
Olhando para o relógio, muitas vezes me assaltou a vontade de adiantar os seus ponteiros, pois esperava ansiosamente, pela 17h30, altura em que se daria início ao Safari Fotográfico, nocturno.
Chegada a hora, saltei para a aventura, que é como quem diz, subi para o jipe, sem reparar que ia mal acondicionado, no que à roupa diz respeito. Bem me avisaram que ali, depois de anoitecer, o frio é implacável. Mas dali já ninguém me arrancou. Antes de por o jipe em movimento, o guia deu a conhecer os cuidados essenciais a observar durante o Safari. Os últimos conselhos, já nem os memorizei convenientemente, porque a emoção, falava mais alto e bloqueava-me alguns sentidos.
Poucos metros após a entrada no Park, estávamos ( eu e mais doze caçadores de imagem) já debaixo de olho de uma manada de Búfalos. Olhavam desconfiados para nós mas seguros do seu papel de vigilância. Aos 14 anos tinha eu tido um encontro com esta “gente” e quase fiz, então, de tapete para o galope dos bovídeos. Agora parecia que me olhavam dizendo que já me tinham avisado há 40 anos que aquilo não era terra para homens. Submissamente desviei o olhar e quase que sugeri ao guia que partisse para outro “quadro”. A noite depressa se impôs, enquanto a temperatura descia vertiginosamente, castigando a minha imprudência de não ter levado os agasalhos necessários. Enrosquei-me numa manta que sabiamente o guia deixou em cada lugar do jipe e improvisei um gorro que deve ter sido motivo de chacota entre os animais que me olhavam.
E Kruger adentro, com quatro focos rasgando a escuridão, seguíamos nós, até que, vindo do nada se atravessou na frente do Jipe, pachorrentamente, um imponente Hipopótamo. De modo desajeitado, livrei-me dos agasalhos e enquanto procurava precipitadamente a melhor configuração para a máquina fotográfica, naquele momento, o “bicho” quase desaparecia sem que o alvejasse com o flash. Bolas, por alguma razão as máquinas têm a opção automático!
A partir desse momento, deixei de me preocupar com o frio, embora estivesse mais parecido com um volumoso cubo de gelo. Será exagero, mas era assim que me sentia!
Enquanto o safari prosseguia, iam desfilando alguns animais de segunda categoria. Sim, que na selva também há os mais e menos notáveis.
Quando pensávamos que as máquinas já poderiam ser guardadas nas suas bolsas, o Jipe parou bruscamente. Ali a poucos metros estava agachado um leopardo que preparava o ataque a grupo de impalas, petrificadas, ignorando o perigo que se avizinhava. Mas com os focos incidindo todos sobre o felino, não restou a este outra alternativa, que não fosse a de adiar a ceia para uma ocasião com menos convidados.
E a jornada chegou ao fim. Despedimo-nos do guia, que nos disse que no dia seguinte haveria mais. E houve. Foi a vez do safari diurno.
Embora à luz do dia tenha havido mais encontros, muito mais, o safari nocturno, pelo enigma que a noite guarda foi uma experiência extraordinária.
Palavra de honra!
Aurélio Terra
felicito-te com satisfação por finalmente teres realizado um sonho que mantinhas há tantos anos.
ResponderEliminarAo ler o teu relato dessa "aventura", qualquer pessoa fica com vontade de viver uma experiência identica, tal é a perfeição com que o fazes.
Que bela deve ser essa africa!!!