Do outro lado da Baía que abraça Maputo está a Catembe. Atrevo-me a afirmar que ninguém pode dizer que conhece Maputo sem ter ido à Catembe. A viagem, de barco demora tão só 15 minutos. É uma viagem onde nos instalamos de costas para o destino, pois não conseguimos tirar os olhos de Maputo, tal é a beleza que desfila no horizonte ao jeito de um “Zoom Out”.
Sempre disponíveis para a travessia, num vai-vem permanente estão os incansáveis ferry-boats, com uma idade que justificaria a sua reforma. Constitui até um desafio, tentar perceber qual a cor que já revestiu essas embarcações, tal tem sido a verocidade da ferrugem, que não precisa de muito para arrasar qualquer, descuidada, superfície de metal ferroso. Este é um transporte que desconhece o que são horários e que alberga sempre mais um passageiro, nem que seja ao colo de outro. Confesso que como europeu me causa algum embaraço ter que me acomodar num regaço que não seja objecto de livre escolha. Assim, não me restou outra alternativa, senão a de viajar no batelão, que pelo facto de obrigar à compra de um bilhete mais caro, já tem lugares disponíveis. Neste caso, os horários estão bem definidos e, o que é mais interessante é que são mesmo cumpridos.
Então, de costas para a Catembe fui partilhando com a máquina fotográfica os excepcionais enquadramentos que Maputo oferece. E durante um quarto de hora senti-me a passear pelo tempo, enquanto me deixava acariciar pelas memórias. E acabei por viajar ao colo do regressado passado.
Após o desembarque na Catembe, e porque o estômago fazia questão de me lembrar constantemente o seu vazio, procurei arranjar alguma cabine telefónica donde pudesse ligar para o Restaurante Marisol. Impunha-se uma operação de resgate, já que só um 4x4 conseguiria vencer a esburacada estrada em terra batida que liga o cais ao restaurante..
Depois de bem suar as estopinhas, lá consegui uma ligação para o Marisol, que,diga-se em abono da verdade, prontamente veio em meu socorro.
Este restaurante continua a ser uma referência da boa gastronomia, tal como acontecia no tempo em que as refeições se pagavam em dinheiro português. A sedutora natureza que envolve o Marisol é um extra que ajuda a memorizar este local.
Terminada a refeição, atraído pelos contornos da bela cidade de Maputo, desfiz-me das sandálias, e por bem mais que uma hora caminhei, na praia, embriagado pelas lembranças que o tempo não conseguiu rasurar.
No regresso, optei de novo pelo batelão, fazendo desta vez o “zoom in” que as fotografias testemunharão para sempre.
P.S. Nesta data, entrou já em funcionamento, na ligação Maputo-Catembe-Maputo, uma nova embarcação baptizada com o apelido “Mpfumo”. Tem lugar para 250 passageiros, dez viaturas ligeiras e quatro camiões de 10 a 15 toneladas.
Aurélio Terra
Sem comentários:
Enviar um comentário