Muito interessante a história de futebolistas moçambicanos, retratada agora em obra escrita pela mão da autora Paola Rolletta antiga correspondente da RTP, salvo seja em Roma. Mais de duzentas páginas traçam o percurso do futebol no território das acácias vermelhas e da ascensão dos seus intérpretes ,concretamente a partir das décadas de 50,60 e meados de 70 já que a partir de Junho de 1975 data da independência, o governo travou as saídas de atletas lá nascidos. Soube que no dia 15 de Setembro o livro finta finta que contou com vários apoios, foi lançado em Maputo depois de intenso trabalho de pesquisa, que entendo não ter sido fácil e cuja venda deverá constituir sucesso. Muito honestamente, considero uma honra que alguém se tenha lembrado de enaltecer e não deixado cair no esquecimento, o mérito e currículo de quase meia centena de atletas e técnicos que em Moçambique ou Portugal revelaram as suas potencialidades. Foram jovens que independentemente da cor de pele, sonharam um dia ser famosos e jogarem nos grandes palcos do pontapé na bola. José Craveirinha, saudoso poeta moçambicano idealizava que através de uma simples bola e da forma de jogar ou organizar o próprio jogo, se conhecia a história de um povo. O futebol era um espetáculo de grandes paixões e jamais esquecerei que um dia quatro futebolistas moçambicanos, não brancos (Coluna, Vicente, Eusébio e Hilário) todos eles titulares ,deram expressão à célebre seleção dos magriços na Copa do Mundo em 66 disputada em Inglaterra, exibindo classe e crença perante o espanto do velho continente, habitualmente acostumado ver militar nas suas escolhas futebolistas de raça branca. Portugal subiu ao pódio conquistando um brilhante 3º lugar( praticamente desviado da final) e o rei Eusébio tornara-se o melhor artilheiro da prova. Portugal exultou e por simpatia Moçambique ficou a conhecer-se melhor. Era o reflexo de um tempo, em que naquele solo tropical milhares de miúdos descalços ou não, davam os primeiros pontapés na bola em inúmeros baldios que proliferavam em bairros míticos e ,que mais tarde procuravam clubes federados tentando dar nas vistas. Assim aconteceu com Albasini, Juca, Wilson, Costa Pereira, Matateu( a quem os ingleses chamaram a oitava maravilha do mundo), Perdigão, Otávio de Sá, Acúrsio, Carlitos, Sitói, Rui Rodrigues, Brassard(pai),Nene, Mário João, Calado, Pérides, Matine, Ricardo, Armando Manhiça, Manaca, Sidónio, Messias, Jambane ,Artur Semedo ,Shéu, Néné, Babalito, Alfredo e os irmãos Abel, Zeca e Roma, nomes que neste momento me ocorrem. Após o 25 de Abril chegaram a Portugal onde alinharam em diversos clubes, Arménio, Baltasar(passou ao lado de uma grande carreira),Márito, Tayob, Sérgio Albasini, José Júlio, Djão, Fumito, Rogério, Batista, Fernando Duarte, Torres e os irmãos José Luís e Jorge Silva, que representaram o S.L e Benfica. Ao que dizem Nuro Americano(excelente guarda-redes) e Joaquim João (irmão de Mário João) não obteram visto de saída, eles que já teriam compromisso com o S.L e Benfica. Devidamente autorizados chegaram a Portugal na década 80, Chiquinho Conde, Calton Banza(grande estrela, que chegou já com 33 anos)Aly Hassan, Fumo, Dário e recentemente Mexia. Pena fora que a obra lançada não fosse mais abrangente e focasse os grandes êxitos do hóquei em patins e do basquetebol, gravados a letras de ouro e propalados além fronteiras. Moçambique tornou-se um berço cíclico de desportistas predestinados que à luz do sol ou ao brilhar da noite, conquistaram o estatuto de estrelas. Resta-nos esperar que as edições do finta finta cheguem também às bancas de Portugal, onde as esperam grande faixa de leitores. Eu prometo a mim próprio que terá lugar de destaque na minha estante e que tentarei sempre fintar o presente para não perder jamais o encontro com o passado.
Manuel Terra
Manuel Terra
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