quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

A antiga praça

 

Nas viagens ao passado, repetidamente retocadas pala emoção e saudade, a antiga Praça 7 de Março (hoje 25 de Junho) merece necessariamente motivo de realce. Segundo rezam, as crónicas da época, aquela praça outrora um modesto jardim foi o berço do nascimento da bela cidade das acácias. Foi daquele local que se traçaram a régua e esquadro, as artérias que ligariam a parte baixa à ala mais elevada da cidade. Ficava a dois passos de tudo e, configurava com a célebre casa amarela, antiga residência dos governadores (hoje Museu Nacional da Moeda) com o Banco BCCI e com a antiga Fortaleza. Em frente encontrava-se erguido o monumento a António Enes e a porta de acesso à zona portuária, por onde passei inúmeras vezes para apanhar o “gasolineiro” que fazia a travessia da Baía Espírito Santo com destino à Catembe. Recordo o seu bem concebido coreto, onde atuava a Banda musical do Ferroviário e a zona das esplanadas rodeadas de canteiros de flores garridas e de um arvoredo protetor contra o sol inclemente. Olho-a e vejo a famosa esplanada do Café Nicola, onde os seus habituais frequentadores, entre uma meia de leite e uma torrada, folheavam páginas dos matutinos citadinos e alimentavam conversas, que não se falando de nada, falava-se de tudo. Por lá terminavam os passeios clássicos de famílias e amigos, depois de repousarem nos tradicionais bancos de ripas à fresca. A garotada corria pelos passeios e interiores em brincadeiras próprias da sua exuberância à espera do apetecido lanche, quase sempre uma arrufada ou uma bola de Berlim, acompanhada de uma Coca-Cola bem gelada. Ao entardecer como era agradável sentir o cheiro de maresia, emanado do Cais Gorjão. Também me lembro que nesse espaço verde se realizavam feiras do livro. Hoje quanto sei têm lugar na Praça todos os sábados, feiras de artesanato muito procuradas por todos os turistas que deambulam pela Baixa, à procura de uma valiosa recordação. A antiga praça jamais perderá a virtude de se tornar num símbolo histórico, que marcou várias gerações de gente que a conheceu e lá viveu.

Manuel Terra

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