segunda-feira, 11 de maio de 2020

Viaduto da Marginal



Lourenço Marques, a cidade encantadora cheia de história e belezas naturais, era a paixão dos seus habitantes sempre ávidos de sentirem na atmosfera, os ventos progressivos da modernização daquela metrópole tropical. Os laurentinos seguiam a par e passo tudo o que mexia com a sua urbe, nomeadamente projetos apontados ao futuro com evidências mais que justificadas. Faço-me transportar ao tempo do começo da década 70, e falo-vos hoje do viaduto da Marginal, obra urgente e muito reclamada pelos seus habitantes que permitiria à cidade resolver um dos seus problemas mais prementes da circulação automóvel. Havia necessidade de estabelecer uma ligação rápida da zona da Polana, a parte mais alta da cidade até à zona da Baixa. Para chegarem ao seu destino os seus moradores optavam por se dirigirem até à rotunda do Padrão dos Descobrimentos, e circularem depois pela Av. Brito Camacho, via que acompanhava literalmente a linha da Barreira da Maxaquene, até ao cruzamento com a Av. Augusto Castilho, direcionando-se depois até à Av. Da República. Já há muito que todo este trajeto causava constrangimentos no tráfego, originando longas filas de automóveis nomeadamente nas chamadas horas de ponta, havendo a necessidade de deslocar para o local um polícia sinaleiro de forma a fluir mais rapidamente o trânsito que entupia o cruzamento das referidas artérias. Finalmente Câmara Municipal de Lourenço Marques, deu luz verde ao projeto para o arranque das obras do Viaduto da Marginal, decorria o ano de 1971. Quem transitava pela Av. António Enes, até à Ponta Vermelha, tinha a oportunidade de ver ser aterraplenada a zona de acesso ao futuro Viaduto. O homem sonhou e a obra nasceu. Operários e máquinas numa cumplicidade mútua, iam vencendo a resistência do terreno na fase mais delicada dado o acentuado desnivelamento da Barreira até à Estrada da Marginal. Aos domingos à tarde no habitual passeio dos tristes tão familiar na cidade, caraterizado pelo cortejo automóvel que se deslocava desde o Zambi e que se prolongava até ao largo do Restaurante Costa do Sol, levava a que os veículos ao contornarem a Rotunda Luminosa, abrandassem a já vagarosa marcha para que todos pudessem observar os pilares que iam sendo implantados, para servirem de suporte ao tabuleiro constituído por duas faixas de rodagem e um pequeno passeio de cada lado das vias. A obra foi sofrendo alguns atrasos ao que se sabe por motivos técnicos, que naturalmente causavam alguma impaciência e foi já nos princípios do ano de 1973, que foi inaugurada com pompa e circunstância, o moderno empreendimento que viria a escoar o trânsito entre a parte alta e a baixa da cidade, em poucos minutos. Bem concebido, o Viaduto da Marginal apresentava um tabuleiro com mais de 250 metros em suspensão, construído em betão armado, com as faixas revestidas a alcatrão e com proteções laterais em tubo rígido. O Viaduto com o começo na zona da Ponta Vermelha, passava por cima da Estrada da Marginal e desembocava junto à Doca dos Pescadores, com acesso posterior à Av. da República que percorria toda a zona nevrálgica da Baixa de Lourenço Marques. Tive a oportunidade de transitar no Viaduto da Marginal, nos dois sentidos, porém o trajeto descendente era aliciante porque nos permitia em andamento poder observar a beleza panorâmica da Baía do Espirito Santo e a muralha que a envolvia ornamentada com palmeiras de médio porte. Na aproximação à Estrada da Marginal, surgia do lado esquerdo o histórico Clube Naval. Foi a última grande obra pública, levada a efeito pelo governo português na sua antiga colónia. Entretanto chegaram-me de Maputo, notícias que dão conta do estado avançado de degradação a que chegou o Viaduto da Marginal. São visíveis danos nas estruturas dos pilares, sendo que o asfalto está muito danificado e com muitos buracos; os paralelepípedos das vias para peões estão arrancados e espalhados nas vias de transição automóvel, os arbustos cresceram de tal forma que já se enrolam nos tubos de proteção do tabuleiro. Verdadeiramente degradante, chegando mesmo a despregarem-se do viaduto placas laterais de betão que vão caindo para a Estrada da Marginal. Dou comigo a pensar neste assunto. Não quero admitir que o esplendoroso Viaduto da Marginal, ainda tão jovem e de tão boas memórias, que eu aprendi a contemplá-lo, esteja agora condenado ao abandono. Espera-se agora a prometida reabilitação da infraestrutura, por parte da edilidade de Maputo. Diria mesmo que o padroeiro da Baía, há muito que clama pela proteção daquela obra maravilhosa que o homem teceu.      

Manuel Terra