No recanto da minha memória, guardo com muita saudade a imagem do imenso espaço junto à Marginal situado entre o Zambi e o Clube Naval, onde se ergueu a FACIM conhecida como a Feira Agro-Pecuária, Comercial e Industrial de Moçambique e recordo que foi em 1967 que visitei pela primeira vez o certame que trazia até à capital moçambicana, grande número de produtores, vendedores, investidores, importadores, exportadores e compradores oriundos dos quatro cantos do mundo. Lembro-me que a rapaziada do meu bairro, o da Munhuana alinhava em grupo numeroso até às instalação da Feira referenciada por centenas de pavilhões embandeirados, adivinhando-se desde logo as suas origens e era muito sinceramente uma porta de entrada para o conhecimento do Universo. No seu interior era visível gente de fora à procura de projetos ou concretização de negócios, que recriava a grandeza do planeta e suas culturas .Perante o olhar curioso e perspicaz dos mais jovens, tudo o que se deparava era novidade e vai daí que todo o tempo era pouco para se colecionarem panfletos turísticos , lembranças e slides mas nem só de exposições vivia a feira, porque todas as noites eram preenchidas por diversões que iam desde a atuação de ranchos folclóricos , representativos de várias casas regionais em L.M, música moçambicana e cinema ao ar livre. Não faltavam no Parque muitos restaurantes e gelatarias, que faziam as delícias de cada um. Também ficaram na retina, os concursos de pintura para a juventude demonstrar as suas aptidões que era patrocinado pelas Tintas Robbialac em stand adequado e ,as provas de redação que contavam com o apoio da multinacional Parker, aliás muito participadas. Ano após ano cada realização era uma festa, mas hoje toda aquela estrutura foi reduzida a escombros jazendo toneladas de entulho, ferro e madeira testemunho da grande superfície que foi atração de milhares de citadinos, que ali acorriam no mês de Agosto para acolher a tradicional Feira da Facim. Ali vai nascer um projeto urbanístico de 83 mil metros quadrados, que enquadrará hotéis de luxo e modernos escritórios e que poderá dispor de uma marina. A nova versão da Feira Internacional está localizada em Ricatla já próximo de Marracuene. O progresso dita a sua lei, mas nunca aquela área beijada pela maresia da Baía do Espirito Santo e cercada por vasto eucaliptal , perdeu a importância nem nunca a irá perder, porque no meu memorial não há lugar a demolições que destruam os momentos inolvidáveis que a minha geração viveu.
Manuel Terra