segunda-feira, 11 de junho de 2012

Os machimbombos



Como é gratificante continuar a navegar na rota das recordações, reviver momentos marcantes que vivemos com muita alegria, sinónimo de convívios, passeios, estudo e trabalho. Tudo isto me faz lembrar de forma quase romântica as viagens do meu tempo que foram inúmeras  deslocações nos inesquecíveis  machimbombos  nossos inseparáveis companheiros , substituindo os velhos e esquecidos elétricos( que pena não ter sido criado o museu do elétrico) que tinham uma forma muito peculiar , uma versão very brysti  caraterizada pelos tons vermelhos e de tejadilhos brancos. O hangar municipal situava-se na Av. General Machado (hoje Av. Guerra Popular) mesmo defronte da Escola Técnica Joaquim de Araújo (hoje Escola Estrela Vermelha) e ainda pareço ouvir o som estridente da potente sirene instalada na torre que indiciava o toque a assinalar o meio dia e a primeira hora da tarde. Por volta das cinco da manhã, ainda o sol se espreguiçava e já os transportes públicos cruzavam as artérias dando ritmo à cidade, transportando no seu bojo gente apinhada até ao estribo que se apeava na longa zona portuária da capital. Depois eram os estudantes que de malas nas mãos esperavam pelos machimbombos nas paragens e quando era impossível conseguirem-se sentar, viajavam de pé nos corredores dificultando a vida ao cobrador que a muito custo picotava o bilhete escolar, que custava a importância de 1 escudo. As viagens eram uma simbiose de sonhos e aventuras, sempre bem animadas com os mais jovens a alimentarem namoricos com as moças do banco da frente , onde se sussurravam fins de semana com idas ao cinema, à praia, bailes nas coletividades e ainda havia tempo para se alinharem em abreviaturas as cábulas que davam sempre algum jeito, não fosse a memória pregar alguma partida nos exercícios escolares mais exímios . Os percursos pareciam sempre curtos porque em todas zonas com apeadouro os transportes de viação paravam para saírem e entrarem passageiros com rotinas definidas, gente que por vezes nunca mais se via. Os machimbombos  eram uma autêntica enciclopédia itinerante, onde os catraios da minha geração aprendiam com o teor da conversa de adultos pronunciadoras das vicissitudes da vida, também a serem homens. A campainha toca a assinalar o fim de linha e por agora vou descer no terminal da saudade e paro por momentos para acenar aos  velhos colegas de outros tempos e cumprimentar amigos que por mim passam, mas com angustiante pena de não ter mais o vermelhão e branco rolante para prosseguir o resto da caminhada.

Manuel Terra