São sempre momentos de imenso prazer, imbuídos de grande sensibilidade referenciar espaços que representaram um ponto de encontro da minha juventude, com aquela Lourenço Marques de que todos falam com brilhante entusiasmo. É verdade que a cidade era a expressão própria de um paraíso prometido que se estendia desde o núcleo central até às zonas periféricas, dormitório de gente simples que muito cedo, ainda a noite celeste cobria a urbe, já se avistava de sorriso nos lábios a dirigir-se para as paragens dos machimbombos, procurando chegar bem rápido aos locais de emprego para garantir o pão nosso quotidiano. Eram exemplo disso os moradores do Bairro de S. José que nasceu nos primórdios do século XX, caraterizado por casas típicas térreas meias escondidas por árvores frondosas já com alguma longevidade. Por ali passava a Av. do Trabalho e de lá desembocavam saídas para a Matola, Bairro do Jardim , Vale do Influene , Choupal e o jovem Bairro de Benfica. Os primeiros habitantes do Bairro de S. José, criaram porventura por devoção ao Santo um vasto espaço para ação eclesiástica mandando construir uma igreja a preceito e uma missão católica para a difusão do ensino, por onde passaram milhares de alunos de todas as raças, com o lema de formarem homens que se tornaram amigos para sempre. Bem me lembro que ao lado do templo, se situava o campo de Futebol em terra batida, vedado com traves de madeira onde o Grupo Desportivo de S. José se treinava, no tempo em que se jogava por amor à camisola. Tratava-se de uma equipa popular que atuava no escalão secundário, do Campeonato Distrital. Aos domingos a mocidade irrequieta, com grande aprazimento jogava futebol desde o romper da aurora até ao pôr do sol, regressando a casa ofegantes e a suar. Alguns deles vieram a fazer carreira em clubes portugueses, casos de Calton e Zeferino. Nos meados da década 60 foi inaugurado muito próximo das instalações da Missão, com pompa e circunstância o moderno Colégio D. Bosco dirigido por padres salesianos , que colocavam quase pelos modos a educação e o desporto no mesmo patamar, nutrindo pela prática do hóquei em patins um carinho muito especial. Criaram um ringue de patinagem e inscreveram o colégio nas provas federadas, gesto de incondicional apoio à modalidade. Dava gosto ver a organização daquele grupo, que desenhavam em campo rendadas jogadas de fazer furor junto dos simpatizantes e eram incondicionalmente na década 70, os dignos sucessores dos grandes hoquistas moçambicanos que 1958, deslumbraram Montreux. Ainda recordo da equipa do Colégio D.Bosco os jovens promissores Araújo, Afonso e o meu amigo Anselmo( Infelizmente já falecido). Tenho presente o Bairro de S. José pelos melhores motivos , onde contava com alguns amigos e não esqueço que os adolescentes, tinham como prática comum naquelas cálidas noites de verão sentarem-se nos muros das casas entoando músicas da moda, fazendo soltar das violas sons musicais que indiciavam vocações perdidas, em entretimentos que tardavam acabar. São estas memórias que fizeram parte de muitos dias da minha vida, que criaram laços de afeição aquela terra tropical. É natural que depois da separação, sempre assim aconteça.
Manuel Terra