quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Ponta do Ouro



Guiado pela instintiva paixão de relembrar os velhos tempos vividos em LM, o eco do meu pensamento esbate-se na paradisíaca  praia da Ponta do Ouro, localizada no Sul e distava a 120Km da capital fazendo fronteira com a vizinha África do Sul através de um pequeno posto, que ligava à estrada de Kusi Bay. Há muito tempo que ponderava visitar aquelas paragens, um autêntico paraíso marinho. Decorria o mês de Dezembro de 1974 e tudo ficou acertado no Café Chilena que ficava na Av. 24 de Julho entre o Cinema S.Miguel (hoje Assembleia da República) e as instalações da Associação Cultural Africana. Era a Zona do Bairro da Malanga.  Os amigos Júlio e o Zé Carlos conviventes daquele espaço, aceitaram o desafio e combinamos a viagem que podia ser via Boane ou então em alternativa utilizar o recém inaugurado ferry-boat que efectuava  o transporte fluvial de automóveis e passageiros para a Catembe. Optamos pela segunda via e sexta-feira ao cair da tarde já com as nuvens a avermelharem o horizonte, embarcamos levando as bagagens no Austin do Júlio. Depois de meia hora de navegação aportamos à outra margem com a noite silenciosa a prometer companhia. Esperávamo-nos uma pequena aventura através de uma estrada de terra batida, em alguns casos com contornos de picada, salpicada de pó e ladeada de capim que encobria muitas palhotas rodeadas de inúmeras micaias(árvore tradicional africana com muitos picos) que se adaptavam a solos secos  e a marcha foi continuando com algumas dificuldades, porque os buracos abundavam. A nossa juventude ajudava de sobremaneira a espantar o sono e a fadiga. Fizemos depois de atravessar a povoação da Bela Vista, uma pausa na localidade de Salamanga para aconchegar o estômago. Paramos junto a uma cantina (nome como era conhecida uma pequena mercearia) e os proprietários lá nos conseguiram servir uma salada de conservas,  com pão duro  confeccionado com fermento duvidoso e umas cervejas. Reiniciado o percurso atingimos a Praia de Malongane sobejamente conhecida pelas suas dunas e vegetação, para pouco depois chegarmos ao destino, após quase quatro horas a rolar. Rapidamente alugamos um bungalow para o merecido descanso. Como era deveras agradável ouvir as ondas a enrolar na areia, numa cumplicidade apaixonante. Na manhã de sábado era já  visível a grande afluência de turistas, especialmente sul africanos transportando os seus iates e lanchas rápidas para pequenos passeios e para a prática da caça submarina. Era vê-los a envergarem os escafandros e armas equipadas com arpões e zarparem  para o largo a  procurarem as espécies que abundavam nas profundidades do mar( garoupas, barracudas e tubarões medianos). Para a tarde ficou planeada a nossa pescaria, altura em que a maré começava a encher e parece que ainda estou a ver o Zé Carlos a fazer um excelente lançamento de linha a partir do limite do areal e de imediato a rejubilar com o curvar da cana; sinal de que o peixe já tinha mordido o isco. Foi com muita paciência e arte que depois de algum tempo, sempre rodeado de gente curiosa, que arrancou das águas um belo exemplar de xaréu com mais de 6kg, que uns dias depois foi cozinhado pelas mãos hábeis da mãe do Zé Carlos e partilhado com os amigos. Até o sol  raiar ainda capturamos algumas enchovas, que predominavam naquela zona marítima. A manhã de domingo foi reservada para umas caminhadas pelas areias finas e uns mergulhos e braçadas nas suas transparentes águas. Cá fora estava um calor abrasador. Era já tempo de arrumar mochilas e canas e ir almoçar ao restaurante que ficava no terminal do paredão.  O relógio dávamo-nos conta que estava na hora do regresso e eis-nos de novo de retorno à aventura para chegarmos a tempo  ao Cais da Catembe. Foi sem dúvida um fim de semana em grande. Como é agradável recordar a rara beleza daquelas belas paisagens, onde o sol brilhante da cor do ouro, parece tal como o arco-íris unir o céu ao paraíso térreo . Sou  dos que porfiam que a Ponta do Ouro, tem mais encanto na hora da partida. 

Manuel Terra