Na minha fonte de recordações, continuam a desfilar inesgotáveis paixões de outrora que resultam da forma intensa, como se vivia aquele tempo. Perco-me hoje pela linda praia do Miramar, vaidosa das areias brancas banhadas por águas calorosas e calmas, que faziam as delícias dos banhistas laurentinos e de milhares de turistas sul-africanos que acampavam no bem tratado Parque de Campismo Municipal nas proximidades do Restaurante e Snack bar Miramar. Era vê-los chegar em auto caravanas ou potentes automóveis que rebocavam confortáveis roulottes. Gente simpática recebida de braços abertos, sobretudo pelos jovens da minha idade que se deslumbravam com o desfile sempre constante das elegantíssimas “bifas” presenteadas por uns piropos românticos, rematados em frases feitas de um inglês prático a que as moças correspondiam com sorrisos matreiros. O restaurante com esplanada estava sempre azafamado de frequentadores de muitas culturas atraídos pelos bons petiscos e pela qualidades das boas cervejas moçambicanas e das suas mesas assistia-se a um salutar convívio e entre risadas e olhares matreiros , no ar esvaiam-se novelos de fumo que descontraídos tabagistas expeliam como que rendidos aos ideais das principais marcas de cigarros. Depois era só descer as escadas para a praia arenosa e caminhar em pezinhos de lã, para não lançar areia para cima dos muitos veraneantes que sobre esteiras ou toalhas procuravam a radiação dos raios ultravioletas para o desejado bronze. Nas águas sucediam-se os mergulhos e os espetáculos de ski naútico. Recordo os dois longos paredões, onde os pescadores desportivos montavam as suas canas de pesca e os enormes penedos para proteção do betão eram também refúgio de caranguejos de várias espécies. Sempre que a maré vazava achava-se o espaço ideal para umas partidas amistosas de futebol de praia, pretexto para o almoço já agendado. E porque não evocar o senhor Vedor, homem de cinquenta e muitos anos que percorria toda a zona de praia na área mais propícia dando toques sucessivos com bola alternando os pés e sempre acompanhado por um rol de curiosos que testemunhavam as suas habilidades. Era pai do Vedor que jogava no 1º de Maio e tio de Magalhães que alinhava no Sporting. Na parte sobranceira da Praia do Miramar, estendia-se entre o Restaurante Miramar e o Dragão de Ouro ,hoje já desaparecido (hotel Holiday) um largo passadiço equipado de dois longos balneários com alpendres e bancos de cimento, sempre percorrido pelos que apreciavam as caminhadas. O antigo restaurante chinês Dragão de Ouro era o local recomendado dada a qualidade da sua gastronomia, sendo as refeições servidas com especial esmero. Também por lá se organizavam as passagens de fim de ano, com os laurentinos a festejarem o seguinte na praia do Miramar. São estas marcas do passado que me conseguiram cativar das quais não consigo desprender ,vividas em tempo real.
Manuel Terra