sexta-feira, 8 de julho de 2011

A aldeia dos pescadores



Continuando a arrumar as minhas recordações na gaveta das memórias,  levado pela constante persistência de citar locais, personagens e fatos, lembrei-me  talvez tocado pelo sol rasgado e abrasador  que se faz sentir, das belas imagens que caraterizavam a típica aldeia dos pescadores muito próxima da zona terminal da Costa do Sol. Para se chegar até lá, caminhava-se por uma estrada estreita servida por uma pequena ponte de madeira, só transitável para veículos ligeiros e já desgastada pela erosão das águas, que permitia o acesso a uma zona extensa de mangal coberta na preia-mar e visível na baixa. Por lá habitava numa considerável área de vegetação circundada por casas carateristicas, um núcleo de homens nativos que se dedicavam à pesca artesanal e apanha de amêijoas . Sem dúvida, uma comunidade honrada e trabalhadora quase alheia ao descanso, que em pequenos barcos por si construídos faziam-se ao mar  para a captura do pescado. Em terra a azáfama das mamanas(mulheres africanas) ,que de lenços na cabeça e com os filhos suportados no dorso por lindas e garridas capulanas, transportavam latas de petróleo (5 litros) em desuso e bem lavadas, para a recolha nas pequenas poças de águas salobras deixadas pela debanda da maré, dos deliciosos moluscos bivalves. Todos estarão recordados, que nas manhãs domingueiras  os laurentinos tinham como hábito deslocarem-se à aquela aldeia, para comprarem peixe fresco; abundavam as corvinas, garupas e peixe-serra  vendidas a olho e as amêijoas, medidas em latas vazias de compotas sul africanas . Se as compras fossem avantajadas, havia sempre a hipótese de regatear o preço. Foi naquele recato piscatório, que muitos jovens do meu tempo passaram momentos agradáveis, pescando junto à ponte com canas de bambu e poucos metros de fio de nylon, com uma rolha a servir de bóia e o pequeno anzol armadilhado com minhoca, à espera que as pescadinhas mordessem o isco e  quase sempre se enchia o saco. Depois da pescaria nada melhor do que os sprints, em direção às águas quentes que se espraiavam ao longo das areias brancas, para sucessivos mergulhos. Para tornar mais original aquele cenário, a tranquilidade reinante a que não pareciam ficar alheias as pequenas embarcações de pesca, que em terra ou na água, esperavam o retorno à faina. Lembro-me que naquele espaço, existia a paragem do machimbombo da linha 29 que demandava à cidade, percorrendo um estradão de alcatrão fendido até se atingir o Bairro Ferroviário das Mahotas e de terra batida até ao excêntrico Bairro da Coop. São estes flashes de momentos felizes que vivi por aquelas paisagens quentes, onde a aldeia dos pescadores enlaçava entre as suas gentes e a natureza uma harmonia perfeita.

Manuel Terra