quarta-feira, 19 de maio de 2010

O ensino das artes


A propósito de um e-mail que recebi, anunciando o 3º encontro nacional dos antigos alunos, professores e funcionários da Ex-Escola Industrial Mouzinho de Albuquerque (hoje 1º de Maio), o permanente fascínio da evocação de velhos tempos de LM desvia-me a atenção para o imponente edifício(antigo Palácio Maçónico) que se distinguia pelos seus esbeltos pilares bem trabalhados, janelas em círculo e uma vasta escadaria que caraterizavam a sua fachada, virada para a Av. 24 de Julho, junto ao cruzamento com a Av. Augusto Castilho (hoje Vladimir Lenin) que a ladeava.  Era um símbolo na formação técnica das muitas gerações, que frequentaram aquelas instalações. Como é salutar recordar o estabelecimento de ensino, que preparou milhares de jovens para o mercado de trabalho através de várias áreas de especialização. Mais vocacionado para alunos do sexo masculino, visto ser reduzido o grupo feminino que frequentavam o curso de Laboratório de Química e Belas Artes. Certamente são muitos os que ainda recordam as suas longas oficinas, onde os jovens envergando fatos-macacos de caqui azul se preparavam para a vida e se tornaram grandes profissionais que hoje labutam nos quatro cantos do mundo como artistas referenciados. Recuperando esse trajeto de vida, lembro-me do velhinho campo polivalente em cimento, mesmo muito próximo da secretaria e do gabinete do Diretor. Muitas partidas de futebol de salão, basquetebol e alguns jogos de hóquei em patins eram observadas do alto muro, coberto de mangueiras de grande porte implantadas na superfície contígua da Missão da Juventude Operária Católica. No patamar cimeiro situavam-se os balneários, o refeitório e a cantina escolar. Ali ao lado o Ginásio, também conhecido pelo “galinheiro” e o seu pátio fronteiriço, onde se praticava aeromodelismo e o ensaio de ruidosos Kartings, montados nas oficinas de mecânica. No Verão, nomeadamente aos sábados à noite em sessões ao ar livre, servia também para a projeção de filmes. Subindo as escadas atingia-se o corpo central da estrutura, posicionada para a Av. Afonso de Albuquerque (hoje Ahmed  Sekou Touré)  onde se encontrava o portão mais utilizado por formadores e formandos. Cá fora num terreno baldio, jogava-se ao paulito, muito em voga na época. Não poderia terminar estas linhas, sem uma palavra de gratidão e eterna saudade a todo o corpo docente que já partiu para a viagem sem tempo, pelo testemunho que nos deixaram, relembrar funcionários e colegas que também já não se encontram entre nós e o grande apreço e consideração aos que ainda felizmente nos fazem companhia; um abraço fraterno a todos esses camaradas de turma, agora de barriguinhas salientes e cabelos brancos ou de visível calvície, mas sempre jovens de espírito. A mística da malta da Indústria, segue dentro de momentos em mais uma confraternização, para mais tarde recordar.

Manuel Terra

sexta-feira, 7 de maio de 2010

O Restaurante Piri-Piri


Na relembrança remanescente, de recordar um paraíso que recuso esquecer, fico com a sensação que por momentos o passado e o presente se resumem num só tempo, fruto do mórbido vício de desafiar as memórias sempre que o ensejo o proporciona. O meu flash de hoje suporta a imagem do inesquecível Restaurante o Piri-Piri, que se situava no cruzamento da  Av. 24 de Julho com a António Enes(Julis Nyerere) na zona da Polana, a mais excêntrica da cidade. Referenciado pelos seus atributos gastronómicos, o Piri-Piri (hoje com um novo visual) aos domingos encontrava-se sempre superlotado e só com muita dificuldade se achava uma mesa vazia. Todos os que se consideravam uns bons garfos, tinham certamente no seu currículo aquele estabelecimento de restauração. Partilhei, assim como muitos laurentinos dos seus divinais repastos em festas ou convívios, onde se comia a melhor galinha à cafreal, o bife à moda da casa ou os apetecíveis camarões grelhados no carvão. Refeições sempre acompanhadas de cerveja Laurentina ou 2M, beberricadas apressadamente para abafar o ardor picante, que os lábios não suportavam. Para facilitar a digestão do banquete, nada melhor do que atravessar a longa artéria que dava acesso à zona das praias e caminhar pelo magnifico Miradouro sempre belo e apaixonante, ornamentado de eternas trepadeiras floridas enroladas em estruturas de madeira, que se estendiam aos seus belos varandins avançados , construídos em semicírculos. Aquele pulmão verde, era um ótimo refúgio para o intenso calor que se fazia sentir e onde se respirava tranquilidade e bem estar.Do seu mirante podia-se contemplar a longitude do mar. Como era necessário gastar o tempo,  o percurso  estendia-se até à rampa do Caracol, palco de memoráveis provas de automóvel  e ciclismo. No regresso, a passagem pelo Pub a Canoa para relaxar e beber um whisky ao som de uma musica em tom baixo e agradável ao ouvido. Como é gratificante saber que locais tão emblemáticos como estes, resistiram à erosão  dos ventos humanos e continuam firmes nos lugares de sempre. São de fato todas estas visões do passado, que me recordam que um dia tive a felicidade de sentir outra forma de vida.

Manuel Terra